Paulinha da Biola

UM BLOGUE INSUBMISSO, LEAL, SEM PLÁSTICAS E FRONTAL.

25.5.05

Palavras que o silêncio não diz!

Mergulhada no sofá, com o olhar preso no infinito, talvez, de semblante carregado e com uma expressão de verdadeira angústia, que me rouba todo o alento para tomar uma decisão, estou eu à espera que o futuro decida por mim...
Penso que o tempo que temos pela frente não é o melhor. Este ano que está a decorrer tem sido (e será ainda) mais duro para mim em termos de sossego. A deficiente qualidade de vida, a insegurança do futuro, o aumento do desemprego, a marginalidade e a droga, a exclusão social, a falta de referentes ideológicos e de valores éticos... a pedófilia.
Aflige-me bastante ter que lidar com pessoas inescrupulosas, cínicas... Sim, as pessoas são más umas para as outras e nesta luta desigual reina a cobardia, a frieza, a indiferença, a hostilidade, a crueldade e até mesmo a falta de vergonha.
Os problemas na minha vida são como água numa fonte. Jorram incessantemente. Há momentos em que me sinto sozinha. No meio da multidão é como se estivesse no meio de um deserto, perdida, sem vida, sem nada! É nesses momentos que sinto um enorme vazio, uma dor tão grande, que não entendo o porquê da minha existência. Sinto-me insegura e amedrontada. Sinto-me por vezes traída pela impotência que implantaram em mim.
Sempre fiz o que me apeteceu. Em tempos, sei que isso foi considerado escandaloso, tal como ainda hoje, para muitos mal pensantes. Não gosto de recordar as controvérsias do passado. É verdade que ao longo da vida, passei por muitas viscissitudes e fiz muitas tentativas para ser feliz. Sei que sou forte mas não sou de ferro. Descontrolada tento ser eu e já não sei quem sou. No entanto é urgente que eu decida!
Mais escandaloso é o que se passa hoje em dia à minha volta e é considerado normal para muitos. Sei bem a reputação que tenho, até mesmo não esqueci a que já tive, mas ao contrário dessa gente, tenho respeito pelo meu semelhante e muito amor pelas crianças. Portanto, não me envergonho de nada.
Às vezes, olho-me no espelho e descubro, assim, um rosto de justiça que nunca vi. Um rosto de fel...
O meu rosto, nunca antes visto, onde às vezes os olhos são as palavras que o silêncio não diz. Esse silêncio que se esconde no peito dos que são vítimas de "homens" sem escrúpulos e que renasce sempre que se põe o sol é o mesmo que me vai massacrando pela noite dentro, num desassossego enternecedor e me acorda a solidão.
Tudo me aconteceu de repente. Não me apercebi da realidade que estou a viver. Nunca vivi assim... Hoje, é tudo tão diferente, tão desigual, mas tão igual a "vidas" anteriores. E agora? Fingir que não me apercebo de nada; fingir que ignoro tudo? Não. Isso, eu nunca farei.
Apesar de parecer por vezes uma mulher segura de mim própria, na realidade, porque vivo profundamente amargurada, tenho muitos medos e não consigo defenir qual é o maior. Acreditem que o maior eu não sei, ou não sei, é de tudo o que vejo e não vejo ou do que vejo e não quero ver...
Contudo, fiz uma promessa e por isso irei cumprir. Posso por vezes permanecer imóvel, sem que um milimetro dos meus lábios se movam, mas quanto ao que tenho a desabafar, nada me fará aquietar. O meu eco não tem morada e pode-se até confundir com o pó da estrada, porque há sempre quem não nos entenda. Ainda assim, no meu peito (como no peito de qualquer homem bom), baila o desejo de ser pássaro, uma fantasia de sol onde o sonho nunca deixou de brilhar. A justiça é uma sinfonia de fel e sonho, outrora esquecida pelos ricos hoje banhada por lágrimas e "xailes" negros.
Escrevo o que sinto ou talvez o que quero dizer e não consigo. Que a minha voz "abane" essa sinfonia e ajude a desapertar a "venda" que a justiça tem apertada à tantos anos. O sabor das lágrimas e o nó que tenho na garganta hoje, é o amargo testemunho de quanto sofro sem dar a entender, quando sorrindo para uma criança a faço sorrir também.
Há palavras que o silêncio não diz... mas que dão felicidade aos demais.

1 Comments:

  • At 27/5/05, Anonymous Anónimo said…

    Tenho muito orgulho em ser teu amigo. Neste tempo em que cobardes se predispõem às maiores canalhices, a troco dos euros com que enchem os bolsos e as consciências, tu marcas a diferença e permaneces como um referencial de honradez, honestidade e coerência.
    Não o digo por ser teu amigo, mas por ser verdade. Tivéssemos mais mulheres como tu e o País seria melhor. Força Ana Paula, sei que a dor que tens suportado é imensa, mas nós precisamos de ti. Da tua solidariedade, do teu rigor, da forma como lhes destapas o passado sujo de abusadores de crianças.
    Faz-nos bem o teu exemplo de mulher íntegra, de combatente desinteressada. Obrigado pelo exemplo. Obrigado pela coragem.

     

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