Por ser uma pessoa (muito próxima) com conhecimento de uma grande parte dos factos, situações ocorridas, e ainda porque vivi na instituição, CASA PIA DE LISBOA, escrevo para todos os que se interessem em saber as verdades que levaram ao julgamento mais mediático e moroso de Portugal.
Desde que o tema "Pedofilia na Casa Pia", saltou para a cena mediática, que tenho aparecido (fiquei conhecida) na comunicação social. Também, é pela mesma via, que tenho fornecido ao público várias denúncias, ou chamem-lhe "Matérias para Reflexão" (se assim acharem melhor), sobre este enorme escândalo!
Realmente, seria muito mais cómodo para mim, manter na intimidade dos meus registos pessoais, as memórias dos tempos passados, quer como aluna quer como funcionária.
(Para não falar dos tempos em que fui só encarregada de educação - desde 1985 até 2003 - e conheci muitas crianças e jovens através dos meus educandos que não foram só os meus filhos...)
Mas não, isso seria impensável para quem sempre defendeu os "irmãos" mais novos que a "CASA MÃE" lhe deu a conhecer ao longo de décadas.
Impensável, para quem nada deve ao passado e não receia a verdade, ainda que dura e penosa, à mentira indulgente e piedosa.
Após o enorme "soco no estômago" sofrido, ao ter conhecimento de que também ele, "Bibi", cometera crimes tão repugnantes, como são o abuso sexual de crianças; os mesmos que sempre condenei e denunciei, quando sabia que outros criminosos os praticavam, não fazia a menor ideia do que me esperava. Não tive a precepção nem consegui avaliar a dimensão (mais do horror) do escândalo...
Contudo, uma coisa percebi de imediato: o porquê da protecção que "Bibi" tinha na instituição por parte de alguns dirigentes! Isso sim, foi para mim, clarinho como o sol...
Porque convivi com a pessoa em questão, "Bibi" apesar da sua dupla ou tripla personalidade, em trinta anos, só me resta dizer que jamais o vi fazer mal, fosse a quem fosse. Hoje, penso que durante todos estes anos, não o conheci porque era "um lobo disfarçado de cordeiro"...
Mas, como posso dizer-me sua amiga? É simples a explicação e para quem queira entender!
Apesar de condenar piamente os seus actos criminosos - nunca da minha boca alguém ouviu dizer que ele era INOCENTE - por maior criminoso que um irmão seja, não o devemos abandonar. É meu dever fazê-lo reconhecer que, nenhumas das crianças que ele vitimizou, têm culpa do que nos fizeram. Não se pode tratar de uma vingança pessoal, quando sabemos o que sofremos nas mãos desses algozes. Desses sim, há que fazê-los sofrer (aos que ainda estiverem vivos) e neste momento, todos (incluindo ele) têm de pagar pelos males que fizeram... a quem o fizeram! Portanto, abandoná-lo está completamente fora de questão.
Ao contrário de "Bibi", que eu pensava conhecer muito bem (mesmo desconhecendo o seu verdadeiro nome, Carlos Silvino da Silva) até Novembro de 2002, sei que existiram, e ainda existem, muitos outros "Bibis" que (não sendo esta e desconhecendo qualquer outras alcunhas) denunciei pelos nomes próprios e durante estes anos todos. Em 30 anos... uns morreram mas há ainda muitos vivos!
Ora, depois disto, escusado será dizer-se (quem me conhece, sabe que nunca fui de me silenciar perante injustiças... e mentiras nojentas) que não me podia calar. Muito menos agora! Meter a "boca no Trombone" era ponto assente. "Bibi" não era o único. Haviam mais... e mais poderosos que ele.
Comecei por fazê-lo, no dia 28 de Novembro de 2002, no "Jornal Nacional - TVI". Num curto espaço de tempo em que fui entrevistada, pelo jornalista Pedro Pinto, eu queria dizer tanta coisa... Mas do "pouco" que falei, consegui dizer muito. Pena que não tenham ouvido bem!
Nesse momento está o início da minha luta para que se faça JUSTÍÇA igual para todos.
Para quem viveu na Casa Pia os horrores da violação sexual e maus tratos, sabe ser verdade as muitas histórias contadas por aí - não só por mim. Histórias mentirosas serão, para aqueles que sempre facilitaram "tudo" a seu belo prazer, fosse por questões materiais com que conseguiram grandes patrimónios, fosse em satisfação das suas aberrações sexuais, quando embrenhados num frenesim constante, insaciáveis, investiam cruelmente sobre as crianças que iam transformando em jovens revoltados e alguns deles, acabarem... em adultos destruidos.
Lembro-me da geração "Rasca" - década de oitenta! Quantos jovens chegaram a adultos? Não sabemos! E, porque não chegaram, muitos?! Talvez porque!...
A escravidão e servidão sexual involuntária de muitas crianças na Casa Pia (muitas vezes iniciada por um colega mais velho - o monitor - quendo não propriamente pelos educadores e outros superiores - as "autoridades" - e extensível aos "Senhores Benfeitores"...) aos predadores pedófilos, sempre foi mantida com a ajuda das "palmadinhas" nas costas dos amigos e "chicotadas" no corpo e na alma das Vítimas.
Isto, para não falar das ameaças de morte que faziam (ainda hoje fazem ) àqueles que abrissem a boca para denunciar fosse o que fosse. Muitos jovens ( alguns conheci), sucumbiram perante o desespero da perseguição e procuraram na morte o único meio de se libertarem dessa escravidão.
Para os amigalhaços e pedófilos de dentro da instituição, era necessário manter "a santidade, o bom nome e estabilidade da família casapiana", enquanto a disciplina na Casa Pia de Lisboa, era violenta .
Frequentemente os responsáveis (que deveriam proteger os alunos) ocupavam-se em bater nas crianças, em seus corpos, quer estivessem vestidos ou (completamente) nus, bem na frente de outras. - Eu vi no Colégio de Maria Pia... Isto funcionava como advertência para os demais, para que nunca se provocasse a ira dos predadores e seus amigos.
Mas ainda, apesar disso (permanecia e ainda em alguns funcionários) permanece o mito de que a disciplina da "porrada" mantem as crianças afastadas de denúncia de crimes hediondos. E, o "respeito" aos superiores só se consolida por meio de procedimentos dolorosos que, na verdade induzem o medo e ao ressentimento em relação "às autoridades".
Perante isto, na verdade vos digo (sem querer defender ninguém - um crime não justifica outro) que, são os efeitos desses castigos corporais, que surgem nas tendências criminosas de um indivíduo (com "várias" personalidades que se pode chamar Carlos Silvino ou...), que é o "meu irmão Bibi" de há trinta anos e já se declarou culpado. Entretanto, todos os outros que não tiveram a vida que ele teve, mas que dele se usaram, são todos "inocentes"...
Portanto, aquando a minha primeira aparição, na comunicação social, não era protagonismo que procurava. Para isso, bastou um único empurrão de Inês Serra Lopes, a 14 de Fevereiro de 2003.
A história do SÓSIA de Carlos Cruz!
Foi aí que começou o meu protagonismo, e comecei a dar mais força à minha luta. Foi a partir desse dia (com toda a polémica) que as pessoas começaram a perguntar: "Quem é Ana Paula Valente?"
O principal é que o assunto (desta história que ainda não posso contar...) bulio com a consciência individual e colectiva de gente, que por não terem "estatuto" não vivem da imundice provinda de um esgoto qualquer.
Gente, a quem essas "ratazanas" querem ver sem voz, mas que é do POVO.
Portanto, ANA PAULA VALENTE sou eu que sou povo e da cidade. E, é, a esta gente dA Cidade a quem dizem mais os valores humanos, numa vida que levam desenfreada (porque lhes cortaram o freio da língua) que não lhes interessa ter "valores deontológicos" como aqueles que por serem dAs Serras, têm...
É pena que assim seja? Eu gosto de ser assim.