Paulinha da Biola

UM BLOGUE INSUBMISSO, LEAL, SEM PLÁSTICAS E FRONTAL.

29.4.05

Ao Grande AMOR da Minha Vida

Um dia, amei um homem e por ele me sentii amada.
Foi a Droga que mo roubou e eu não pude fazer Nada...

Colocando-me no lugar de "Carlitos", o grande AMOR da minha vida e em sua memória, eu escrevo.
Tentei sempre entender a tua condição, embrenhei-me no teu ser, fiz do meu o teu "EU". Aquilo que eras e não querias demonstrar ser. Mas eu descobri... pena que tarde demais!
Por tudo o que vivemos, por tudo o que me contaste, por tudo o que contigo passei e te vi sofrer, por tudo o que me ensinas-te, percebi que o amor faz milagres. Lamento apenas que a nossa vida se resuma num poema de enorme saudade para mim.
É para vós, toxicodependentes, ou pessoas que se debatam com problemas de droga na família, esta mensagem. Todos os que estão vivos.
Nasci e fui feliz, até que alguém me conduziu
para um mundo diferente, ilusório.
E eu, por curiosidade segui em frente.
Tudo era bom, eu vivia na fantasia
em que estava envolvido e sem querer acordar.
Destrui a minha vida, quando a queria edificar...
Vendo que já pouco tinha a perder,
porque não cheguei a ter,
a fantasia virou terror e veio a solidão.
fiquei sofrendo sozinho.
Não podia arrastar comigo aquela que mais amei
e por quem chamarei na hora da morte:
"Paulinha, a minha velhota..."!
Hoje, já farto, sei que vou morrer,
mas peço a todos os que a consomem,
que a deixem de consumir.
É ela que nos consome...
Bem alto digam NÃO, aquela que é causadora
da nossa destruição,
DROGA MALDITA.

E foi como ele disse: "Tarde demais"... Nada mais pude fazer, a não ser tentar atenuar o seu sofrimento.
Não o desprezei nunca. Amei-o muito e por ele fui muito amada. Dei-lhe o meu colo sempre que dele precisava. Cumpri a promessa que lhe fiz, no dia que descobrimos ser ele seropositivo. Por causa da Droga fora contaminado com HIV. Dizia-me muitas vezes: "Amor, quando eu estiver na fase terminal, deixa-me morrer nos teus braços. Só assim morrerei mais tranquilo..."
Enquanto seu corpo esquelético, jazía no leito da morte do Hospital Egas Moniz, só eu sei o que sofreu, o quanto se arrependeu. Era já tarde... muito tarde.
Chegou ao fim da sua estrada de sofrimento, no dia 10 de Julho de 1999, com 32 anos. José Carlos, o meu "Carlitos", morreu nos meus braços... tranquilamente.
Para mim, perda irreparável, apesar de hoje sentir que, onde quer que ele esteja, sabe o que ainda sinto... para além das enormes saudades.

Portanto, "amigos" que apesar de apanhados na teia da droga não deixem que a SIDA vos mate. Tenham coragem e larguem de vez com esse flagêlo que não é só vosso consumidores. Lembrem-se que quem vos ama também sofre, sejam, familiares ou simplesmente amigos...
DIGAM NÃO À DROGA E SIM À VIDA...

28.4.05

ACTUALIDADE VIVA DE UM POETA MORTO

ANTÓNIO ALEIXO
Nasceu em Vila Real de Stº António a 18 de Fevereiro de 1899 e faleceu em Loulé a 16 de Novembro de 1949.

"A actualidade da mensagem deste poeta singular evidência-se e toma relevo crescente à medida que o tempo passa."
É um dos meus poetas preferidos, porque me interesso por poesia. Por ter sido um homem do povo, cauteleiro e guardador de rebanhos, cantava de feira em feira (não tenho conhecimento de algum dia ele ter cantado na Feira da Ladra!), pelas redondezas de Loulé.
Ele compunha sob a forma lapidarmente sintética muitas das suas quadras (que explodia, ou sorria, a expressão contundente ou contestatária de velados e explícitos protestos, humanos e justos, perante a sociedade. Ele improvisava nas mais diversas situações e oportunidades...
Este poeta algarvio (faz-me lembrar uma jornalista, também ela singular e algarvia. Uma mulher do "CARAÇAS"! ), apesar de ter sido considerado um poeta menor, não sendo totalmente analfabeto [dado que, por carência de estudos regulares, pouco menos era do que meio-analfabeto], sabia ler, mas não era capaz de escrever com correcção e a sua preparação intelectual não lhe dava certamente qualificação para poder ser um poeta culto.
Todavia, sendo os seus versos, de "linguagem incorrecta", têm uma expressão concisa e original de uma amarga filosofia, aprendida na escola impiedosa da vida que não deixam de impressionar. Os motivos de inspiração são bastantes variados. Correspondem a preocupações morais e aspirações sociais que [já por esse tempo] animavam as consciências de grande número de portugueses.
- Mais ou menos o meu caso, que não sendo licenciada em coisa nenhuma vou escrevendo umas crónicas no jornal "O CRIME" sobre um tema que tanto pode incomodar como animar as consciências dos portugueses de hoje. A Pedófilia na Casa Pia.
É que actualmente, penso serem as nossas preocupações e aspirações sociais "mais refinadas" e por isso faço alusão a este poeta, fazendo minhas e adaptando, algumas das suas quadras, dedicarei em subentendido... Entenda-as quem quizer!


"Quem nada tem, nada come;
e ao pé de quem tem comer,
se alguém disser que tem fome,
comete um crime, sem querer.

Após um dia tristonho,
de mágoas e agonias
vem outro alegre e risonho:
são assim todos os dias.

Prende-se a humanidade
à ambição, à cobiça
E com essa austeridade
Faz da justiça injustiça
Faz da mentira verdade,
pra sustentar...

********
A sorte que veio comigo
morria com a minha morte
se não houvesse um amigo
que descobrisse essa "sorte"

Fiz do meu estro uma vara
para medir a verdade
e dar com ela na cara
do cinismo e da maldade.

Quem me vê dirá: não presta,
nem mesmo quando lhe fale,
olhem, ninguém traz na testa
o selo de quanto vale.
Sou humilde, sou modesta;
mas, entre gente ilustrada,
talvez me digam que eu presto,
porque não prestam pr'a nada.
Porque o mundo me empurrou,
caí na lama, e então
tomei-lhe a cor, mas não sou
a lama que muitos são.
Eu não tenho vistas largas,
nem grande sabedoria,
mas dão-me as horas amargas
lições de filosofia.
Meus versos, que dizem eles
que façam mal a alguém?...
Só se fazem mal aqueles
a quem lhes fica mesmo bem.
********
Contigo em contradição
pode estar um grande amigo;
duvida mais do que estavam
sempre de acordo contigo.
Mentiu com habilidade,
"fez" quantas mentiras quis;
agora fala verdade,
ninguém crê no que ele diz.
Diz tudo quanto quizeres
mas eu, para te ser sincera
daquilo que tu disseres
só acredito o que quero.
Eu não te digo que mentes
mas faço-te compreender,
que dizendo o que sentes,
dizes-me o que não queres dizer.
********
É um moça inteligente
a que passou à bocado;
julgava enganar toda a gente,
mas ela é que foi enganada.

Se fizeste tudo às avessas
para me prometeres, coisas tantas?
Não me faças mais promessas
pois já sabes que não sou"daquelas"... santas.
********
Alheio ao significado,
diz o povo, e com razão,
quando ouve um grande aldrabão:
- Dava um bom advogado.
(Não é isso que alguns são?!)
««««««««
A começar pelo "Urso"
d'Alcobaça, a estudantada,
só quando se acaba um curso
sabe que não sabe nada.

Tu não tens valor nenhum,
andas debaixo dos pés,
até que apareça algum...
que diga a sério quem és.

Não vás contar a ninguém
as histórias que não sabes;
nem assim entrarás bem
no lugar em que não cabes.

És parvo, mas és distinto,
só vês bem o que tens perto;
não compreendes que minto
quando te trato por esperto?

««««««««
Fala bem, gosto de ouvi-lo,
mas sei que lá dentro fica
para dizer tudo aquilo
que ele vê que os prejudica.

««««««««
Estou velho, gasto e... doente,
mas muito me satisfaz
ver o julgamento andar p'ra frente,
e eu a puxá-lo para trás.
««««««««
Uma mosca sem valor
poisa com a mesma alegria.
Na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.
********
Traz-me num desassossego
a alívio à minha Cruz;
ando tal como o morcego
ao deparar-me com a "luz"...
««««««««
Negociando viveste
tens dinheiro e "excelência";
são coisas que recebeste
a troco da consciência.
««««««««
O tempo mete na morna
o mundo que andava em perigos
e é o tempo que transforma
a casaca dos amigos.
********
Pintas "esse rosto lindo"?
Tapas a cara que é tua,
no tribunal ou na rua, estás,
mesmo calada, mentindo.
********
Para que não te iludas
com amigos, pensa nisto:
Foi com um beijo que Judas
levou à cruz Jesus Cristo.
********
É para ti próprio um reclame,
porque tens vida opulenta,
quando pretendes que eu queira
a vida que te sustenta.
Embora o nosso amor fosse
doce, tinha que acabar;
o mel por ser muito doce
é que nos faz enjoar.
********
Vejam como socumbiu!...
A vida dos artifícios,
das ilusões e dos vícios
como era falsa... caiu.
Que o mundo está mal, dizemos,
e vai de mal a pior;
e, afinal, nada fazemos
para que ele seja melhor.
Só quando a hipócrisia
cair do seu pedestal,
nascerá, dia após dia,
um sol p'ra todos igual.

26.4.05

Presente!

Ana Paula Costa
Aluna interna nº 131-F-58-69
do colégio de Santa Clara da
CASA PIA DE LISBOA

A vida é um sonho. É uma miragem. É o despertar para o mundo falso e corrupto, de preconceiros e maldades, capazes de destruir... a HUMANIDADE.

Aluna durante seis anos, respondia sempre à chamada com esta palavra - PRESENTE

Aqui dentro ficamos hirtas,
longe dos que não virão.
Ficamos restritas,
aderentes aos que se vão.
Vivemos de olhos e bocas cerradas,
tolhidas e desconfiadas
no receio de todos os que circundam por aí...
Aqui dentro a vida somos só nós
afectados pela timidez,
perto do viver atróz de uma profunda languidez.
Caindo fácil na tristeza
falamos a sós obsecadas na incerteza...
Sem o eco de uma voz,
sem consolação, chorosas,
sem apoio e perdidas
é no meio do vazio que gritamos
e em surdos bramidos,
pedimos SOCORRO...
Mas é bom estar-se só
quando se é perseguida.
Em nossos pequenos corações
há sentimentos profundos,
sentimentos de razão
quando afastados do mundo.
Aqui dentro somos nós
sem a nossa companhia
porque não se ouve a voz da resposta que viria.
Chegamos à comoção,
não sentimos a emoção de sermos ouvidas,
increntes à compreensão
de mentirosas chamadas
andamos sós e esquecidas
como corpos singulares e invisíveis...
Aqui dentro
só nos vêm quando "interessa"
e a resposta obrigatória à chamada
é...
PRESENTE!

(Colégio de Santa Clara, 03 de Fevereiro de 1975 - Ana Paula Costa)

25.4.05

Outra Vez Eu!

OUTRA VEZ EU!

Eu que surgi do nada,
célula que gerou outras iguais,
veias que outras criou,
nasci, cresci, vivi
e estou pronta para morrer.
A lei natural da vida.
Sinto que de mim,
nunca ninguém quis saber...
saber aquilo que fui,
nem descobrir o que sou.
Mas eu,
talvez porque surgi do nada
vivo do ar.
Ar sufocante que asfixia a vida,
aquele que espalha odor
do ódio que não sinto,
o mesmo que embriaga a ternura
que não conheço,
mas sinto.
É este ar asfixiante que vai
enchendo de nada o vazio,
para que no vazio eu não viva.
Eu sou alguém,
sinto-me gente,
riu quando estou triste
e choro quando contente.
Portanto,
não estou vazia de nada
pois continuo a viver
apesar de por tudo sofrer.

Aqui neste infinito de nada,
vejo o mundo tal qual ele é.
Não me agrada,
mas é nele que me insero.
Mas se daqui é o devir,
eu, capaz de florir em nada,
tenho pouco a descobrir.
Mas, então eu...
Que sou eu?
Não sou nada.
Sou apenas
Vagabunda de estrelas que
cantando máscaras de chuva
em madrugadas de desespero
de mãos estendidas vai pedindo
justiça e não clemência.
Arquivadas na mente
da vida que é minha,
folheio páginas já amarelecidas pelo tempo
e recordo o passado,
algumas tocadas de amor,
amizade e alegria,
outras porém rasgadas pela dor
manchadas de suor e sangue...
Portanto,
que esta página de hoje encerre
o ódio que se deposita
nos outros por nada
porque se vive numa sociedade injusta
cheia de muito.

20.4.05

Quem sou?

Impressão Digital

Os meus olhos são uns olhos.
E é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos diz flores.
De tudo o mesmo se diz.
Onde uns vêem luto e dores
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.

Nas ruas ou nas estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros, gnomos e fadas
num halo resplandecente.

Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.
Onde Sancho vê moinhos
D. Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes.

António Gedeão